A amizade está tão estreitamente ligada à própria definição de filosofia que podemos dizer que sem ela, a filosofia não seria possível. A intimidade entre amizade e filosofia é tão profunda que esta inclui o philos, o amigo, no seu próprio nome e, como acontece frequentemente em casos de proximidade excessiva, a filosofia arrisca-se a não conseguir concretizá-la. No mundo clássico, esta promiscuidade, e quase consubstancialidade, do amigo e do filósofo, era óbvia, e é certamente com uma intenção num certo sentido arcaizante que um filósofo contemporâneo - no momento de colocar a questão radical: "o que é a filosofia?" - Pôde escrever que se trata de uma questão a resolver entre amis. De facto, hoje a relação entre amizade e filosofia caiu no descrédito e é com uma espécie de embaraço e de má consciência que aqueles que fazem profissão de filosofar tentam acertar as contas com este partner incómodo e por assim dizer clandestino para o seu pensamento.