No início era só campo, a vida humana teve originalmente um caráter rural e assim foi durante milénios. Marvão, este pedaço de terra, cujas fertilidade dos solos, muita água, riqueza natural e climatérica, fauna e flora circundantes permitiram a fixação da vida humana, desde a início das civilizações, é também serra, escarpa, rio Sever, caos granítico e paisagem verdejante, frondosa até, aspetos que constituem parte da sua atratividade. A raridade de todas estas felizes coincidências contribuiu para que, em tão ínfima área como a que representa Marvão, seja possível verificar-se uma enormidade de influências culturais, patrimoniais e históricas. Por aqui passaram, desde o Paleolítico, todas as principais civilizações desta região do globo, tendo, todas elas, deixado o seu legado geracional. Foi o homem que, em simbiose com a natureza, moldou, melhorou e construiu esta paisagem cultural. Ao longo dos séculos, as ações, omissões, logros e a pura sorte dos distintos povos que aqui habitaram mereceram ser reconhecidos, protegidos e, se possível, perpetuados. Constar na lista indicativa do Património Mundial é, para todos nós marvanenses, uma honra, mas cumpre-nos a nós saber merecer o reconhecimento da Unesco. Assim, agradeço publicamente o esforço, a abnegação e o contributo científico de todos os brilhantes autores dos textos que a seguir poderão ler. Estes serão a semente, a base do conhecimento necessário para a construção de um dossier ganhador, dando conta da valia, da singularidade, da autenticidade e da importância histórica, cultural, patrimonial e até natural desta terra, para as gerações futuras e em toda a humanidade, "elevada à condição de propriedade de todos, quer dizer, de ninguém...", como diz o verso de Baudelaire. (Prólogo, José Manuel Pires)