Este livro é o testemunho comovente e dramático de um homem de convicções coagido a viver consigo próprio numa total solidão, submetido à angústia e à incerteza desgastantes, com uma força de vontade psicológica que procurava dominar o corpo e o espírito, para guardar o equilíbrio físico e mental face ao sofrimento e à iminência da morte. Para o leitor que, como me aconteceu, provavelmente devorará de um fôlego estas páginas emocionantes, um dos momentos mais angustiantes talvez seja aquele em que, já amnistiado, foi ainda submetido - como Sísifo na sua montanha - ao suplício de interrogatórios repetitivos e cruéis, ainda que sem violência física, que não tinham qual¬quer justificação ou lógica que não fosse a de uma vingança mesquinha da polícia política que se sentia "ridicularizada" por ele ter escapado à sua fúria assassina durante mais de dois anos e meio. Antes de ser um documento histórico ou um exercício literário, aliás de evidente qualidade, este livro é, entre o sensível e o inteligível, o testemunho dilacerante de um ser a lutar desesperadamente pela sua vida, sem nunca ceder à adversidade e à solidão. Afinal de contas também estamos perante um verdadeiro manual de sobrevivência.