O homem que passou por baixo do arco-íris apresenta um panorama do conto brasileiro sob o prisma da dissidência, incluindo obras produzidas durante um período caracterizado por uma crescente política de estigmatização e normalização de comportamentos e identidades.O livro justapõe autores canônicos, como Machado de Assis, Coelho Neto, Mário de Andrade, Graciliano Ramos e Lygia Fagundes Telles;a outros menos conhecidos, como Domício da Gama, Pardal Mallet, Nestor Vítor, João Luso;e ainda outros, hoje praticamente desconhecidos, como Martins de Oliveira, autor da história que dá título ao volume.Para além da homossexualidade, a dissidência é aqui entendida como a gama de comportamentos sociais e performances de gênero que durante décadas tenderam a ser classificadas como heterodoxas, anormais, doentias e, em muitos casos, simplesmente como esquisitices ou extravagâncias.A reunião de narrativas de 38 autores, muitas delas inéditas em livro, oferece uma nova alternativa para se compreender a história da literatura no Brasil, distanciada do critério da nacionalidade e do modernismo.---------------- ------------------------------------------------Com a virada para o século XXI, vieram à luz uma série de coletâneas reunindo amostras da produção contemporânea de autores identificados como gays ou LGBTQI+. Aqui, neste livro, nos voltamos para o passado e foram reunidos contos completos identificados com a produção LGBTQI+ publicados entre 1880 e 1950. Nos escritos de autores dos mais diversos é possível identificar, a forma pela qual o discurso científico passou a dominar as representações de dissidências sexuais e de gênero, sobretudo a partir das décadas finais do século XIX, e como de certo modo, esse discurso começou a se dissipar em meados do século XX, quando as representações de gênero e sexualidade se tornaram mais sutis e, ao mesmo tempo, mais heterogêneas. Pode-se questionar se, ao se republicar essas histórias que em sua maioria condenam todo tipo de dissidência sexual e de gênero, não estaríamos reproduzindo o caráter moralizante, patologizante, ou criminalizante das obras daquele período. Com certeza há esse risco, mas queremos acreditar que o resgate e a releitura desses contos possam também oferecer um potencial de rompimento com sua intenção original, criando possibilidades de recontextualização e redirecionamento. Dessa maneira, O homem que passou por baixo do arco-íris reúne exclusivamente os escritos que mostram que a sexualidade humana é muito mais diversa, heterogênea e interessante que os estudos do período tentavam enquadrar.----------------------------------- ------------------------------Sobre o autor: César Braga-Pinto ocupa a cátedra George F. Appel Professor in the Humanities na Northwestern University, Estados Unidos. É autor de As Promessas da história: Discursos proféticos e assimilação no Brasil Colonial (Edusp, 2003);A Violência das Letras: Amizade e inimizade na literatura brasileira (1888-1940) (EdUERJ, 2018);e Poses e posturas: performances de gênero e sexualidade na literatura brasileira (1850-1950) (Alamda, 2023).