«Democracia» designa hoje na linguagem política um significante vazio, tão mais consensual quanto mais vazio, quanto mais inquestionado no seu conceito ou na sua substância, espécie de religião laica universal. O problema filosófico-político deste tempo não é a crítica do capitalismo, sobre a qual toda a gente está mais ou menos de acordo. É a crítica da democracia que nos vendem, a única a que nos dizem termos direito, como regime de poder inseparável da realidade capitalista dominante e modo ideal, e também o mais cínico, de legitimação sociopolítica dessa realidade. Uma crítica ciente de que a solução para os cada vez mais dramáticos problemas da humanidade suscitados pelo capitalismo global, para o presente estado pré-apocalíptico do mundo, não passa por esta democracia.