O texto de Fly é percorrido por fios, linhas de água, braços de vento, rastos cósmicos num movimento incessante a dar unidade às suas três partes: o reconhecimento do rumor da voz, o trabalho da inspiração ? «fêmea tecedeira, branca» -sobre a memória, e a passagem de testemunho. Fly é uma asa afiada que, como lâmina, corta o ar, submerge, transforma, reformula, muda, recupera o tempo da memória, «poro a poro» num «trabalho forçado do pensamento». (...) No «objecto longo da memória», que é Fly, há um homem no umbral lutando com o «vazio atordoado» das mãos, portanto, um homem que transforma as mãos: o umbral a transpor simboliza a saída para a realização poética, para a luz;por sua vez, o vazio é um espaço de liberdade. Estão reunidas, pois, as condições para a fabricação do fogo, da palavra sanguínea «como escuro animal, das últimas sombras de um jardim interior.». Para nascer, o homem tem de romper o invólucro escuro, o «ovo de cansaço» onde se encontra, dobrado sobre si mesmo, ideia plasmada na primeira ilustração do interior, de arte maior.