Eis a ge?nese deste volume: um olhar e uma entrega. Contudo, na?o se pense que este volume pretende ser um estudo sobre a histo?ria do cinema, ou um estudo aprofundado sobre realizadores especi?ficos, ou actores actuais ou passados, ou uma histo?ria das te?cnicas que o cinema desenvolve desde os seus primo?rdios desde finais do se?culo dezanove. Trata-se, antes, do contra?rio de uma tal pretensa?o. Procuramos, na verdade, descultivar qualquer posic?a?o, estilo, ambic?a?o ou invo?lucro de estudioso - erudito ou na?o, sistema?tico ou na?o - porquanto a erudic?a?o tende a tornar em po? as obras que doutamente estuda e em mu?mia a paixa?o que as obras suscitam no seu imediatismo urgente e ontologia veemente. Ale?m disso, na?o introduzimos nestas pa?ginas, nem pretensiosismo amadoresco (embora, sim, de amante), nem ta?o-pouco um mero espi?rito turi?stico de fla?neur. Simplesmente, cada um dos filmes abordados neste volume interpelou-nos a? sua maneira. Cada filme abriu caminho a? sua respectiva reflexa?o. Cada filme levou-nos a? questa?o essencial que todo o trabalho interpretativo nos impo?e em forma de aporia: a partir de que momento e com que crite?rios e?-nos autorizado afirmar que compreendemos uma obra? Ou dito de um modo mais sucinto: como sabemos que compreendemos? Parece-nos o no? gordiano do inte?rprete deveras desarmado e atento, sem ma?scara de erudito e sem mala de viagem curta. Cada filme abordado neste volume representa o momento de um encontro de duas presenc?as construi?das, i.e., a vida incarnada de um espectador que se constro?i ao longo do tempo e a vida em celulo?ide de uma intelige?ncia especificamente cinema?tica que se constro?i numa diale?ctica de olhares. O lugar deste encontro chama-se simplesmente: cinema.