Francisco Martins da Silva conduz-nos pela existência incerta de um conjunto de personagens envoltas no roldão da recente História de Portugal. Este emocionante romance começa em Angola, nos anos sessenta, com a Guerra Colonial como fundo, passa pela descolonização, e acompanha as vicissitudes dos seus protagonistas até aos dias de hoje. "Andamos todos à procura de emoções (...) Só que... o que é que acontece se te encontramos, por momentos, logo no início da caminhada? O que é que fazemos o resto do tempo? "Não sendo uma obra autobiográfica, o autor recorre à sua vivência em Angola e à sua experiência enquanto professor, arquitecto e fotógrafo, para conferir espessura a este sensível retrato social, feito de histórias interligadas e presonagens intensas. ***************** - Estás a morar onde? - No bairro do Ferrovia, onde trabalha uma amiga da minha mãe, em casa de um sôringénhéro de lá. Mas, o meu tio Miro e o meu primo Mingas vêm me buscare, hoje de noite. - Vêm buscar-te? Vais sair com eles à noite? - Vão me levare lá na base deles no Mosangoo. - Base? O que é isso? É como a base dum triângulo, que a gente multiplica pela altura e divide por dois, para saber a... - Que triângulo, Xandee? Eh-eh-eh, tão matumbo, eheheh. Deixa... Diz na Dona Armanda que eu... que eu lh´agradeçoo. - o olhar frio hesitou, desviou-se por um instante e humedeceu-se um pouco. O pequeno Alexandre sentiu os olhos encherem-se repentinamente de lágrimas. Um sobressalto agudo fez-lhe disparar o coração que ecoou dentro da cabeça. Concentrou-se no pacotinho de ginguba, levando à boca, rápida e mecanicamente, as sementes envoltas em açúcar.