As palavras nascem desarrumadas, como os primeiros movimentos que o corpo desenha em busca de forma. Como o que é espontâneo e não escolheu nem espaço, nem tempo para se acomodar. Palavras de um corpo que olha, sobre corpos que se escrevem. Corpos que se olham na troca de palavras. Notação de sentires verbalizados, apreendidos e desordenados como tudo o que é emoção, sentimento, confrontação, impulsividade. Cadência, ritmo, método no disciplinar de cada movimento, no rascunho de cada palavra, no desenhar de cada expressão. Num jogo contínuo, as palavras vestem-se da plêiade de significados para dizerem os movimentos captados, provocadoras raptam a energia dos corpos, tornam-se intérpretes dum conto, sem narração, percorrendo cenários de fantasia. Palavras que se tornam gestos funcionais de uma escrita dançada no singular para um qualquer olhar a eleger. Passagens ora fugazes, ora demoradas, pelas diferentes fases dum processo, abertas em sugestões de leitura para movimentos plurais, viajantes entre a dúvida e o arrebatamento, entre a suspensão e o encontro. Índice de ambiências múltiplas, pertença de um álbum desfolhável no imaginário de quem testemunhou um acto criativo onde a dança escapou para fora dos corpos, adoptando o pincel da escrita, colorindo com emoções, ritmos, misticismo e determinação, refúgios de réplicas inaudíveis que se firmam nas páginas brancas de um livro. Um turbilhão de magia que sobe a palco na edição Do espontâneo a um Qualquer. Aplausos!