No percurso da humanidade houve um tempo em que foi possível pensar num sentido para a História. Uma espécie de mola invisível impulsionaria à realização de utopias cultivadas desde sempre: a Igualdade, a Justiça e a Harmonia prevaleceriam sobre as Desigualdades, a Injustiça e as Guerras. Em momentos de asperezas e desencanto, tais construções ideais animavam e consolavam. As grandes revoluções do século XVIII - francesa e americana - laicizaram os sonhos metafísicos, acrescentando um outro, desafiador: a Liberdade. Estava no futuro a possibilidade de concretizá-los. Propostas socialistas do século XIX iriam mais longe: a nova sociedade era inevitável, condicionada por "leis históricas". Dependia apenas de mãos determinadas que se ocupassem do assunto, com funções análogas às de um parto - a revolução social como parteira da História na metáfora de Marx. No século XX, na esteira das revoluções russas, comprometidos com seus padrões, brotaram em todo o mundo grupos, partidos e organizações decididos a assumir, contra riscos e perigos, a exaltante tarefa de fazer germinar o novo das entranhas do velho. No Brasil, ao longo do último século, muitos dedicaram-se a este épico projeto. Apesar de condições adversas, a Vontade parecia maior do que tudo, inclusive porque ela corresponderia à dinâmica imparável dos tempos. Este livro conta a saga de uma organização animada por estas concepções e propósitos. Nascida nos anos 1960, a Dissidência Universitária da Guanabara, a DI-GB, assumiu vários nomes ao longo de sua trajetória. Narra a lenda que foi a mais charmosa organização das esquerdas brasileiras. Apostou tudo o que tinha e o que não tinha na revolução esperada. Trucidada pela repressão, desapareceu. Renasce agora, captada pelos radares de Higor Codarin: com seu inteiro charme e disposições aventurosas, sua determinação e a convicção - que era a dela - de que todo o ser humano tem o direito de se revoltar. Daniel Aarão Reis
