Um resíduo histórico perturbado pela alucinação. Um tecido subtil de símbolos sexuais. Messalina com uma heroicidade mitológica. À saída de um lupanar, Messalina vê a imagem do deus Fales levantar voo e desaparecer no céu. Isto contraria o seu desejo de possuir em amor o próprio deus, degrau máximo para a sua experiência sexual. Acabará no entanto por concluir que o deus não desertou para nenhum olimpo e apenas se mudou para os jardins de Lúculo, nessa altura pertencentes ao Asiático, um rico habitante de Roma. Possuir a sua chave faz-se invencível obsessão da imperatriz, que não hesita em conjecturar uma mentirosa denúncia e condenar o Asiático à morte. Já proprietária dos jardins, não encontra lá o deus mas um dos mais célebres mímicos de Roma. Ela quer, na sua frustração, tomá-lo pelo deus, mas é-lhe oposta uma sexualidade pouco sensível a mulheres, que embora incitada com filtros sábios não se mostra capaz de lhe satisfazer os desejos. Desdenhada por este Fales decaído até às inapetências de um mímico, Messalina opta por possuir o considerado mais belo romano dessa época. E a volúpia sentida nos braços deste macho de eleição dá-lhe audácia para repetir, na ausência do imperador, as cerimónias de um novo e ilegal casamento. Condenada à morte, a imperatriz não hesitará em ver no gládio fálico que a penetra a verdadeira imagem do deus finalmente possuído. [Aníbal Fernandes]