Embora admitindo-se que é o mais antigo dos textos conhecidos de Mikhail Bakhtin, Para uma fi losofi a do acto, escrito originalmente em 1919 e 1920, apenas foi publicado em russo em 1986. Intimamente ligado às contingências por que passava o autor enquanto teve que enfrentar a animadversão das autoridades soviéticas, o manuscrito ia apodrecendo em Saransk, onde esteve Mikhail Bakhtin depois de regressar do seu exílio cazaque. Nestas páginas, em que ainda sentimos as reverberações das tentativas do pensamento de Mikhail Bakhtin para encontrar o modo de expressão peculiar que seria depois o seu, temos uma oportunidade excepcional para assistir a um ensaio de problematização e proposta de uma visão lúcida sobre a prática, a ética e a criação literária centradas sobre o próprio momento da criação, sobre a eventicidade do evento, as irredutíveis qualidades de qualquer gesto ou obra que apenas podemos compreender conhecendo o instante da criação emergente.