"Serviços mínimos", um livro de poemas com um título prosaico. Como se, através do título, o poeta quisesse levar o peso da prosa dos dias à subtileza da poesia, construindo um inusitado diálogo entre o poema e o quotidiano da sociedade. Se, como dizia, num outro tempo, um outro poeta, "a canção é uma arma contra a burguesia", a canção de Manhente é também uma arma, sim, mas uma arma contra o conformismo, desenterrando o óbvio e fazendo desse óbvio a fonte da recusa da desistência. Opondo-se ao atualmente quase omnipresente egocentrismo do poeta, daquele que não sai do seu umbigo e à roda do seu umbigo faz girar toda a sua poesia, José Manhente faz-nos regressar a uma das grandes razões de ser da poesia, a de, através da arte poética, da construção do belo pela palavra, revolver a poeira que nos tapa o verdadeiro entendimento do mundo, a verdade escondida por detrás da tecnocracia ocidental, a verdade de que o ser humano pode e deve ser mais do que produtor e consumidor, mais do que escravo, ainda que pago em míseros tostões, que nunca se transformarão em milhões. "Serviços mínimos" é um livro que presta um máximo serviço ao leitor que recusa os mínimos que o capitalismo lhe atira, como restos do banquete.