(...), há que encarar os textos de Diários como prosas poéticas, poemas escritos em prosa, o que, friso, amotina estas páginas relativamente aos cânones dominantes, quer da escrita ficcional, quer da diarística. Páginas em que, portanto, se esboroa a cesura artificiosa entre a fictividade da vida e da escrita, porquanto vida e escrita se alcandoram a uma potencialidade imaginária que nos lança, a nós, leitores, no jogo de luz e de sombra da instância autoral, que se metamorfoseia, desta forma, em figura onírica: sonho e sonhado fundem-se, afinal, no corpo figural dos textos. "Ao longo destes Diários deparamo-nos com a expansão e a contracção dos dias, uma tensão que acompanha o devir do sonho e, cumulativamente, o pulsar da vivência amorosa, cujos signos redesenham e reconfiguram o mundo, as suas coordenadas espaciais e temporais.