(à) Não sei, mas talvez tenha acontecido a António Luiz Rafael ser um homem mais feliz e mais humano ao escrever este seu primeiro livro. Feliz e humano, como são todos os que na ânsia de acrescentar humanidade se tornam parte dela. Para sempre. E não interessa se grande ou pequeno esse acrescento. Não é de grandeza mensurável, de resto medida pelos outros, aquilo de que falo. Tão pouco a boa ou má crítica literária. Que interessa isso? Sobretudo a quem se deliciou numa aventura, a sós, pelos caminhos do Alentejo, pelos caminhos de Moçambique, rosto aberto ao vento quente, ao pó da estrada, ao calor único da terra a latejar a sua formidável força telúrica pela linha do horizonte. Pela linha do horizonte corre a escrita de Sara, uma alentejana. Veloz e segura. Com paragens à beira da estrada para fumar um pensamento, uma inquietação própria de quem observa (e absorve) a vida. E como viajante animado pela vertigem da viagem, o autor parece escrever como quem percorre esse velho caminho que nos leva a S. Vicente da Terra Alta e que, andando, andando, passa pela velha Lourenço Marques, à beira do verde-mar Índico, e logo regressa a casa pelo azul-pardo dos azinhais de além-Tejo. No fim da picada poeirenta, subindo a um monte mais ingreme, lá estarão Sara e Miguel unidos pelo descaminho das suas vidas. (à) ¶¶ [Francisco Bilou]
