Mário de Sá-Carneiro é um poeta fora do seu tempo e, portanto, contemporâneo porque só é contemporâneo quem não coincide com o próprio tempo e não se adapta s suas pretensões. Por isso, plenamente consciente de ser o único a chegar a tempo a uma festa cujo convite, porém, declinou, Sá-Carneiro faz-se ele próprio ofensa e irrisão dos lepidópteros de uma época que é a sua, mas que recusa porque é incapaz de correr sua velocidade. Talvez tenhamos de começar por aqui e admitir que não precisamos da vida de Mário de Sá-Carneiro - e muito menos da sua morte - para apreciar os seus versos e reconhecer-lhe a grandeza que, passado mais de um século, continua inalterada e inalcançável.