A minha vida tem sido um percurso com altos e baixos, mas que mantémuma coerência que vai muito além da minha própria vontade, porque muitasvezes é fruto de acasos. Todavia, os acasos surgem quando estamos preparadospara os levar no sentido certo. Nós andamos no mundo e, quando mudamosuma pequenina areia de um sítio para outro, ajudamos a mudar o mundo.O importante é que o ajudemos a mudar para melhor. Tenho consciência de que,em alguns casos, o ajudei a mudar para melhor ou, pelo menos, esforcei-mepara isso. Estou cheio de fracassos pelo caminho. Eu chamo-lhes fracassos,mas não são verdadeiros fracassos, porque uma pessoa só fraqueja quandodesiste, e não quando está pronta a recomeçar. Sou uma pessoa que não desiste, que não se ajoelha. Procurei sempre alicerçar a minha visão do mundo na dignidade das pessoas humildes, que normalmente ninguém vê. Há que descobrir dentro delas a sua dignidade, no milagre da luta pela vida. Foi essa escola de fazer milagres que fui assimilando e que procurei aplicar em todos os lugares por onde tenho passado. Tenho fé nas pessoas e isto dá-me uma grande serenidade. Não me cria particular angústia saber que morro amanhã ou que morro depois de amanhã. Nós achamos que devíamos ser eternos, e inventámos a imortalidade. Como verificamos que o corpo morre, inventamos a imortalidade da alma. Não há imortalidade, há renovação, metamorfose. A semente cai à terra, nasce uma nova árvore, que dá flores e frutos, que um dia vai morrer e que tornará a nascer. Hoje sou matéria viva, amanhã sou pó, terra, vento, que vai alimentar uma planta, que vai alimentar uma flor. Só a metamorfose é imortal. É essa a nossa forma de eternidade. Cada manhã em que acordo é um milagre da vida.