A narrativa d´ A Guardadora de Gansos desenvolve-se em torno de duas ideias fulcrais: nenhum pai deve questionar a filha acerca do seu amor filiar;os criadores não querem morrer após a morte. Um pai é um criador, mas uma filha também o é. Chama-se Vita, é a última de três irmãs, é muda e tem como única herança as palavras: as do pai e as dos caseiros da quinta onde cresceu. Dizia-lhe o pai que a única herança que lhe deixava era a morte;a gente rural deixou-lhe os contos tradicionais e aqueles que viveram ou imaginaram viver. Estes contos procedem a narrativa como gansos em fila. Diário, poesia, conto, de tudo se vale Luísa Monteiro para construir uma biografia de Vita, uma personagem "intersexual" que passou a infância numa vinha, na companhia dos homens e mulheres da terra e das figuras de Pinóquio, Cinderela e Polegarzinha. A par da narrativa, As Horas tecem-lhe os dias na tentativa da renovação do seu destino;mas As Moiras já têm o conhecimento de todo o percurso. Talvez por causa da herança paterna. Mas Vita não quer morrer após a morte. Deixa livros e um quarto cor de romã para um filho que nunca nasceu. A autora dedica a obra à memória do seu pai.