As problemáticas que envolvem a escravatura nem sempre são bem aceites, tal como o não é abordar temas colocados na tarja sombria da sociedade como a miséria, a prostituição ou qualquer outro assunto feito de exclusões profundas, considerados impróprios, poluentes. De qualquer forma, são questões sociais impossíveis de omitir pelo que de mais trágico e subterrâneo existe nas sociedades humanas ao longo dos tempos. Estamos, de facto, nos antípodas dos grandes heróis, longe de uma visão paradisíaca e, no entanto, o inferno de uns comunica com um mundo de promessas de outros. Mergulhámos neste mar profundo. Centrámo-nos no tráfico negreiro, forma muito peculiar de escravatura e comércio de escravos no período dos grandes impérios ultramarinos, mas atentos ao antes e depois, sobretudo às feições reais de que se reveste a clandestinidade e às motivações e forças que ainda hoje conduzem à permanência mistificada desta utilização abusiva, por vezes até consentida, do ser humano.