O livro de Diego Tavares, A fábrica em que o sindicato nunca entrou: paternalismo industrial no ABC paulista, insere-se em uma importante tradição sociológica e historiográfica inspirada na obra do historiador marxista britânico, E. P. Thompson. Trata-se de uma tradição que já produziu um conhecimento da classe trabalhadora brasileira, em especial, o operariado fabril da região do ABC paulista. A diferença desse livro em relação a outras investigações de grande qualidade já realizadas sobre os \"peões\" do ABC paulista é que Diego Tavares selecionou um grupo muito peculiar de trabalhadores refratários à mobilização sindical num momento de explosão do chamado \"novo sindicalismo\" brasileiro: os trabalhadores da empresa Termomecânica São Paulo S/A.A fim de interpretar e compreender essa \"anomalia\", Diego Tavares precisou retomar temas centrais da sociologia do trabalho a partir de uma abordagem multidimensional e inovadora que logrou combinar elementos estruturais e simbólicos na análise da evolução da experiência de classe dos trabalhadores da fábrica, com especial atenção às disputas em torno da linguagem dos trabalhadores. Com isso, Diego Tavares conseguiu reconstruir a luta entre direito e favor na empresa, reconfigurando nosso conhecimento sobre o paternalismo operário.Em suma, inserindo-se nas trilhas de clássicos da sociologia brasileira, como Chico de Oliveira, por exemplo, esse livro tenta discutir como nossa sociedade salarial foi formada a partir da combinação do moderno e do atrasado, do novo e do arcaico. Ao fim e ao cabo, ao reconstruir as combinações contraditórias do embate entre a rebeldia e a resignação operárias, o livro de Diego Tavares levanta uma questão perturbadora: até que ponto uma mesma experiência social pode dar lugar a identidades antípodas como Lula e Salvador Arena ou, mais atualmente, Lula e Bolsonaro? Trata-se, portanto, de um livro de grande atualidade que tem tudo para agradar ao leitor interessado em nossa história recente.