Centros urbanos, ocupações, movimentos de moradia são elementos que conformam uma constelação de disputas e embates por territórios e modos de habitar. Esse livro se dedica a essas disputas. Além do interesse que o objeto de pesquisa suscita, é preciso mencionar o modo como essas informações foram reunidas e cuidadosamente analisadas. Adriana Fernandes realizou uma imersão de natureza etnográfica no universo das ocupações de edifícios no Rio de Janeiro. Entrou em contato com moradores e moradoras, se envolveu nas formas de apoio aos movimentos, escutou - essa palavra preciosa já que dá título ao livro - as pessoas em seus percursos de trabalho e em suas trajetórias urbanas. Seu próprio percurso também é alvo de cuidadoso reexame, já que seu lugar em campo permanece como eixo de reflexão tanto no início como ao longo dos capítulos. Essa etnografia, narrada vividamente, foi produzida com uma enorme sensibilidade que, ao longo dos capítulos, se articula e se ilumina por um contraponto e uma complementariedade incessante com um trabalho teórico e conceitual primoroso., Nessa rara junção entre rigor, sensibilidade e escuta, Adriana Fernandes nos permite compreender o que afinal significam as cores e os tons de uma cidade que se mostra na sua heterogeneidade, na sua desigualdade flagrante e nas lutas de todo dia pelo direito de morar e de viver.