Seja no contexto rural ou nas malhas das cidades, o povo brasileiro trava uma luta cotidiana em busca de sobrevivência. Sofrendo determinações internacionais e observando a concentração do poder em poucas mãos, são alijados por uma estrutura de iniqüidade histórica que os leva a hospedarem-se na precariedade. A questão de terras no Brasil e seu acesso à população, principalmente de indígenas e quilombolas, rurais e urbanos, revela condições de exclusão de moradia e recursos àqueles que seriam seus donos mais legítimos. É nesta trama de deslocamentos e descontinuidades, onde vidas são rasgadas, que os relatos singulares de memória ganham vida. Neles encontramos a dimensão simbólica do território, o verdadeiro adubo da terra - daí as abordagens das ciências humanas que revelam, denunciam e buscam suturar, como o livro demonstra.Este livro, como resultado dos Seminários coordenados pela Profa. Dra. Lourdes Carril, na UFSCar de Sorocaba, busca resgatar o que há de íntegro nos espaços esgarçados, iluminando a riqueza de narrativas tão autênticas como dos povos Karajá e Xavante, que buscam ter suas histórias conhecidas para serem respeitados, ou na palestra do Sr. Deodato ou, ainda, do rap quilombola do Realidade Negra e outros. Outros artigos buscam trazer à luz a estrutura e as dinâmicas envolvendo as dimensões espaço-temporais, político-sociais, histórico-econômicas, antropológico-culturais, psíquicas e simbólicas de nossa territorialidade: em vários momentos projetos dificultaram o acesso à terra, como na constituição do Estado-nação;território e territorialidade, bem como o estudo do reconhecimento, revelam conceitos que transbordam sentidos quando configurados em constelações de compreensão;em outra reflexão, a saúde física e mental de populações negras e indígenas, feridas em sua humanidade, precisam ter seus modos de ser contemplados.Enfim, este livro busca revelar o combate diário contra a invisibilidade a partir de histórias de pessoas e comunidades que procuram ser reconhecidas, legitimadas, firmadas em seus ancestrais, para cuidarem-se e curarem-se. Estudos que em muito contribuem ao aprendizado de humanidade e ao ensino das humanidades.Renata Câmara Spinelli