Há várias maneiras de olhar para a principal tríplice fronteira da América Latina, entre a Argentina, o Brasil e o Paraguai. É uma zona de fronteiras vivas, com um volume comercial importante e com um fator cultural relevante. A região tem recebido uma população árabe muito significativa, o que gerou uma forte securitização. E esse olhar securitizado é um imaginário discursivo, que foi construído nos âmbitos regional e global. Do ponto de vista regional, porque há mais de 25 anos a região foi incorporada à agenda de segurança dos Estados Unidos devido às percepções e suspeitas da região como um espaço para atividades terroristas. A região também se incorporou à agenda global devido à securitização dos vínculos que as atividades ilícitas de atores transnacionais teriam com o terrorismo. Com isso, a Tríplice Fronteira passou a ser umas das mais novas regiões de segurança, daquelas que emergiram após a Guerra Fria, assim como um lugar para se pensar em uma agenda de segurança por via das \"novas ameaças\".Em consequência, mais que um espaço geográfico, a Tríplice Fronteira é um espaço de construções sociais sobre a qual se tem elaborado representações, a maior parte das quais fortemente negativas. A desconstrução daquelas imagens socialmente construídas na forma de securitização, de região de atores fora da lei ou de um lugar de violência é a mais importante contribuição do livro Além dos limites: a Tríplice Fronteira nas relações internacionais contemporâneas, organizado por Micael Alvino da Silva e Isabelle Christine Somma de Castro. As temáticas referenciadas combinam fronteira, percepções sobre terrorismo, construção de instituições na fronteira e percepções negativizadas (securitização), tratadas de forma crítica e consistente na presente obra, que virá se transformar numa das principais referências da literatura que trata da Tríplice Fronteira.Rafael Duarte VillaUniversidade de São Paulo