A poesia de Leonor Sobral participa de um certo arco da lírica portuguesa de expressão feminina, aquele que transita da Marquesa de Alorna a Florbela Espanca, e recapitula assim os grandes tópicos românticos, exemplarmente ilustrados pela voz dessas figuras. Aqui deparamos de facto com os pendores maiores que caracterizam a escola, a mobilizadora contemplação da Natureza, os lances do amor humano, e a sinceridade confessional que os modernismos sumariamente arquivariam. E a paisagem destas composições, ora aflorada em lugares amenos, ora em quadros convulsos, espraia-se amiúde num território de desolação e expectativa, conducente todavia a horizontes que configuram uma última instância de redenção. Se quisermos por isso resumir em três linhas o espírito que unifica o presente trabalho, convocaremos a curta estrofe seguinte, e ficamos na serena consciência da verdade. Nos gemidos dos rios entre árvores despidas reconheces os teus domínios. Mário Cláudio