Este livro foi publicado por ocasião da exposição «João Queiroz: Stanca Luce», com curadoria de Bruno Marchand, realizada na Fundação Carmona e Costa de 23 de Maio a 27 de Junho de 2015. Vale a pena sublinhar que o facto de a representação da paisagem ocupar hoje o centro da prática artística de João Queiroz [à] deve-se, sobretudo, ao facto de a paisagem ser um campo de experiência que reúne um conjunto de condições que facilitam quer a exploração da somatização perceptiva, quer a sua materialização em pintura. No topo deste conjunto de condições está o facto de a paisagem convocar, imediata e inequivocamente, o corpo como medida da experiência. E fá-lo através de um conjunto de características que com ele partilha: também os elementos naturais ocupam um lugar, têm peso, têm um alto e um baixo, um à frente e um atrás, um esquerdo e um direito, um dentro e um fora;também eles se articulam, se movimentam e envelhecem;também eles habitam o mundo, resistem, caem e desaparecem. Esta equivalência física entre o corpo e a natureza é o factor que permite que tenhamos consciência de que o nosso envolvimento com a paisagem se processa, a um tempo, na base de uma relação imanente e transcendente: ou seja, na base de uma relação que nos diz que partilhamos com ela uma mesma condição física no mundo, mas também que ela nos escapa, nos ultrapassa, nos é absolutamente alheia. [Bruno Marchand]