A caixa com as inscrições 1602B.CS é tudo o que resta da vida e da obra de Panero. Mesmo sabendo que a vida se cumpriu inteiramente na escrita que a escreveu, mesmo sabendo que a obra ù ou o que dela se conhece, e foi tudo o que aconteceu ù cabe na caixa que agora vemos e de onde nunca saiu, aquilo a que assistimos, indiferentes ao que sabemos, é à invenção do impulso que, entre reflexos e citações, recupera a memória dos lugares que antecedem a criação dos museus e, mais recentemente, a norma asséptica do cubo branco. Na invenção desse impulso, Pedro Saraiva é o coleccionador e o autor de uma metaficção ù ficção (da obra e do autor) dentro da ficção (da arte) ù onde a privacidade e o anonimato se confundem, como, em cada uma das ficções que a constituem, se confundem o artista e a obra, o autor e o coleccionador. Idem per idem. [Maria João Gamito]