Foram diferentes os caminhos percorridos no ambiente de Paris por Claude-Nicolas Ledoux e Etienne-Louis Boullée. Vivendo e trabalhando muito próximos de áreas do poder e com grande capacidade de decisão, descobriram a sua própria indisponibilidade para responder à encomenda pública ou privada respeitando as limitações dos códigos clássicos. Tratando-se de duas personalidades muito distintas, acabaram ambos por se colocar intelectualmente próximos do racionalismo crítico dos neoclássicos da primeira geração, bem como dos seus émulos enciclopedistas, em nome dos princípios das vanguardas para a revolução das ideias. Posicionaram-se como arautos de uma atitude artística diferente sem evidenciar clara consciência revolucionária, mas assumindo o princípio da liberdade individual no processo criativo. Ledoux manifestou desde cedo tendência para a realização de obra inovadora, cuja característica principal foi a de respeitar velhas práticas artísticas mas estabelecendo sobre elas critério interpretativo e crítico à luz da ligação com o quadro de valores emergentes. Assentou saberes sobre as correntes tradicionais do classicismo em versão depurada das cargas decorativas com que a geração precedente tinha envolvido os enunciados maneiristas. Foi a desconfiança sobre a legitimidade dos dogmas, anunciada pelos arautos do racionalismo, que acabou por romper com a crença na divina proporção. Escritores e artistas, progressivamente libertos da tutela das Academias, foram lançando as bases do livre arbítrio e da afirmação individualista. Depressa o romantismo, nas suas múltiplas formas de afirmação dos valores da nova burguesia, se espalhou por todo o ocidente e colónias do comércio marítimo protagonizado pelos impérios ocidentais. O movimento romântico tomou o comando da nova cultura europeia, cabendo aos intelectuais franceses formular a teoria da nova sociedade liberal. Ledoux desenhou a cidade utópica de Chaux segundo o método clássico da arquitectura que pressupõe a visão unitária e global das formas que integram o conjunto imaginado, como se se tratasse apenas de uma outra escala do edifícado. Uma bela atitude que representa apenas um caminho impossível perante a realidade nascente da passagem à Idade Contemporânea. Se John Nash personificou na Inglaterra, sempre liberal mas inimiga de Napoleão, a alternativa pitoresca e romântica para uso das vaidades do rei, Ledoux e Boullée colocaram-se do lado moral da utopia para encerrar o ciclo clássico da história da arquitectura na Idade Moderna.