Esta parece ser a história de Gabriela e da sua relação com o pai omnipresente, o noivo fugitivo, a amiga traiçoeira, Camilo, os filhos adoptivos - enfim, com a vida. Porém, a história que faz dinamizar a narrativa é a de Gabriela e Camilo, que se projecta, qual espelho invertido, na de Anastácia e Leonel: e o percurso de ambos os pares acompanha a história do território, desde a segunda metade do século XX até ao período imediatamente posterior à independência. Através destas histórias, presentificam-se episódios históricos e vozes, gestos e actos de resistência que significam pela reconhecida referencialidade espacial e temporal - e, neste contexto, pode dizer-se que Léveléngue: As Gravanas de Gabriela partilha características de uma narrativa histórica, pela saturação de sinais reconhecíveis e identificáveis como históricos, embora não haja efabulação de um acontecimento que constitua a trama diegética (por exemplo, o massacre de Batepá aparece como um episódio, apenas, da história de vida de Gabriela e Camilo), fazendo coexistir, num mesmo universo diegético, eventos e personagens históricos e inventados . Vários eventos conjugam-se na construção de um software psicossocial que suporta, e explica, a emergência do nacionalismo são-tomense, apresentado na sua diversidade de actuação e de actores sociais que convergem nas aspirações, embora constituindo identidades singulares, que, grosso modo, apontam para a configuração do projeto de um país independente. [do Prefácio, de Inocência Mata]