As comemorações do Centenário do nascimento de Agostinho da Silva, a nível nacional, lusófono e internacional, estão a sensibilizar-nos para a mensagem desassossegadora e libertadora deste grande despertador de consciências, que viu como a transformação profunda, a que aspira a insatisfação de hoje e de sempre, não deriva tanto das condições externas quanto da profunda mutação daquilo que é o próprio âmago do nosso ser e de toda a realidade - o espírito ou a mente -, de cuja metamorfose, individual e colectiva, depende toda a regeneração e aperfeiçoamento das nossas vidas, em todas as suas dimensões: ética, estética, intelectual, social, política e económica. É como contributo para essa desejável metamorfose que publicamos aqui três estudos cuja unidade reside na expressão de três aspectos fundamentais da espiritualidade de Agostinho da Silva: a sua visão do absoluto ou de Deus como "Nada que é Tudo", a relação entre criatividade e mística e a sua original leitura do Espírito Santo como igualmente presente no íntimo de todos os homens e de toda a experiência religiosa, agnóstica e ateia, fundando um ecumenismo verdadeiramente universal onde todas as religiões, agnosticismos e ateísmos possam dialogar, como vias igualmente válidas para essa experiência culminante que descreve como a plena realização de si ou o "ser Deus". Com uma visão ecuménica assumidamente católica, no sentido de uma universalidade de que o cristianismo é apenas uma das faces, anterior ao concílio Vaticano II e mais ampla do que aí e noutras religiões se consagra, o pensamento de Agostinho da Silva é um contributo fundamental para o diálogo inter-cultural, inter-religioso e trans-confessional que vê como a vocação maior da comunidade lusófona e do qual tão urgentemente depende a cultura de paz, interior e exterior, de que tanto carecemos. Mas, acima de tudo, é uma sublime pro-vocação, que visa despertar-nos para a tomada de consciência, o exercício e a realização das nossas superiores possibilidades.