O tempo em que a obra literária se dava a ler como mistério, isto é, uma literalidade universal autorizada pelo prestígio da tradição ou da inspiração, pertence ao passado. Sabemos hoje que uma obra não nasce literária, mas antes que obtém esse estatuto através de um processo social e histórico de selecção que envolve uma diversidade de actos, agentes e instituições e dá pelo nome de canonização. Quando, a partir dos anos ´70 do século XX, este saber se torna incontornável no campo dos estudos literários e emerge o cânone como questão, ou seja, a consciência da historicidade ontológica dos textos, o estudo da literatura entra no estádio da auto-reflexão...