Rousseau é um clássico do pensamento político, e toda sua obra é perpassada por uma preocupação com a política, ou antes, pela crítica às formas institucionais e às autoridades estabelecidas em sua época. Mas seria justo, por isso, cobrar do filósofo e dos que o estudam respostas imediatas, do gênero que ele nunca pretendeu oferecer? É evidente que um "estudo sobre a antropologia de Rousseau" focado no binômio "trabalho e ócio" jamais poderia ser confundido com um panfleto, manisfesto ou coisa que o valha. Não é uma intervenção, mas, isto sim, uma reflexão, ponderada e meticulosa, que reconstituiu a trama dos argumentos, identifica problemas, expõe e disseca conceitos.Reside aí seu mérito maior, que eu não hesitaria em qualificar de verdadeiramente subversivo: recuperar o pensamento de Rousseau, mostrar sua pertinência para a compreensão que temos do homem - esse objeto que não é dado, mas constituído por um processo reflexivo e histórico - e ajudar a desfazer os mal-entendidos ligados a um autor que nunca foi objeto de consenso ou unanimidade, que sempre dividiu seus leitores, e não chegou a ter discípulos (exceto talvez por Kant e Lévi-Strauss).