A presença da lavoura da cana-de-açúcar em imensas áreas do Estado de Sao Paulo tornou-se, nos tempos atuais, fato notório e corriqueiro. Desde a instituiçao do Pró-álcool, em 1975, o plantio da gramínea tornou-se sinonimo de uma política nacionalista de bio-combustíveis. As críticas à iniciativa centram-se, principalmente, no avanço agressivo da monocultura da cana-de-açúcar sobre terras produtivas, ceifando espaços antes destinados às lavoura do café e de outros generos.O que muitos nao sabem, contudo, é que essa história, a história do açúcar e do álcool nas terras paulistas, é antiga e persistente, varando os séculos ao sabor de avanços e recuos conjunturais, mas certamente jamais desaparecendo, como demonstra este trabalho inovador da historiadora Roberta Barros Meira. As décadas finais do século XVIII foram marcadas por uma primeira significativa expansao da economia açucareira em terras paulistas, fruto da crise provocada pelos acontecimentos sangrentos de Saint-Domingue e de um mercado consumidor atlantico em franca expansao. Logo após a Independencia, contudo, a chegada da cafeicultura veio abafar as fornalhas dos relativamente modestos engenhos paulistas, reduzindo-os às áreas de terras menos cobiçadas pela nova cultura.A análise desenvolvida por Roberta Barros Meira neste volume retoma o fio da meada dessa história justamente na conjuntura da segunda metade do século XIX, a partir do momento em que a exportaçao açucareira paulista perde sua preeminencia na balança de exportaçao para o recém-chegado café. Sua proposta é de analisar a reaçao que o negócio do açúcar em Sao Paulo manifesta frente às novas políticas imperiais favoráveis aos engenhos centrais. Embora já saibamos, de antemao, que a proposta dos engenhos centrais - a separaçao da agricultura e da fábrica no processo produtivo do açúcar, onde os engenhos moeriam canas alheias - foi um fracasso, Roberta Meira propoe-se a avançar mais além. Busca detectar como o negócio açucareiro se entrelaçou ao boom cafeeiro, aproveitando-se de seus capitais e, principalmente, do crescimento acelerado da populaçao e, por consequencia, do mercado consumidor interno